Entre os diversos acontecimentos do século XX, os avanços tecnológicos e as complexidades das questões ambientais, sociais e empresariais se entrelaçaram, gerando o termo ESG. Formalizado por Kofi Annan em 2004, suas raízes remontam às ousadas ações desde os anos 50, moldando Direitos Humanos e movimentos feministas, e influenciando eventos marcantes, como o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente em 1972.
Nos anos 90, a preocupação com a sustentabilidade ganhou protagonismo, internacionalizando o termo ‘Responsabilidade Socioambiental Empresarial’. Essa expressão abraça toda a cadeia produtiva, almejando equilibrar questões ambientais, qualidade social e visão estratégica das empresas. Além do lucro, as corporações buscam, ativamente, informar aos acionistas e o mercado sobre suas iniciativas em busca de melhorias.
O ano de 2004 assinalou um marco vital, quando a expressão ESG foi oficialmente introduzida no documento “Who Cares Wins”, resultado da colaboração entre o Pacto Global e o Banco Mundial. A semente dessa concepção brotou de um desafio proposto pelo visionário secretário-geral da ONU, Kofi Annan, instigando líderes de instituições financeiras a explorar a integração dos elementos sociais, ambientais e de governança no cenário do mercado de capitais.
Num contexto mais recente, em 2015, a condução da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável pela ONU, juntamente com os diversos pactos, acordos, padrões e diretrizes que se originaram ou se desdobraram dessa iniciativa, intensificaram consideravelmente o impulso em direção aos avanços do modelo econômico sustentável nos últimos anos. Essa abordagem evoluiu para o que agora é conhecido como a “Agenda ESG”, oferecendo uma perspectiva mais abrangente e integrada dos elementos econômicos, ambientais, sociais, éticos e de transparência, todos essenciais para a prosperidade de organizações e a coletividade.
As ramificações da crise provocada pela pandemia da COVID-19 destacaram a complexa interconexão desses fatores, ressaltando como uma crise de saúde pode exacerbar desafios sociais e ter efeitos econômicos significativos tanto para empresas quanto para nações. Essa crise acentuou ainda mais a relevância das questões sociais na intrincada teia de interdependência entre países, indivíduos e organizações. É incontestável que essa conjuntura intensificou a ênfase na agenda ESG dentro das empresas, do setor financeiro e de capitais demonstrando preocupações explícitas e implementando medidas para mitigar os riscos de impactos adversos decorrentes da falta de engajamento das empresas em questões ambientais, sociais e de governança. Esse ímpeto reflete a crescente consciência sobre a importância de práticas sustentáveis e responsáveis para garantir a resiliência e o êxito de longo prazo das organizações.
ESG e Relações com Investidores
O relatório de sustentabilidade desempenha uma função essencial no âmbito das práticas ESG (Ambiental, Social e de Governança), oferecendo uma análise minuciosa das ações, desempenho e impacto de uma empresa nessas áreas. A sigla ESG, que abrange as dimensões Ambiental, Social e de Governança, é utilizada para avaliar o desempenho e impacto de uma empresa em três esferas fundamentais. Nesse contexto, apresentam-se alguns pontos relevantes sobre a interconexão entre o relatório de sustentabilidade e as práticas ESG:
No âmbito ambiental (E), observa-se como a empresa administra seu impacto ambiental, considerando as mudanças climáticas, gestão de resíduos, eficiência energética, poluição e conservação de recursos naturais.
Na esfera social (S), a atenção volta-se para a maneira como a empresa trata as pessoas, tanto interna quanto externamente, abrangendo temas como diversidade e inclusão, práticas de trabalho, direitos humanos e envolvimento comunitário.
Quanto à governança (G), refere-se às práticas de governança corporativa, incluindo a estrutura de liderança, ética nos negócios, transparência, remuneração executiva e direitos dos acionistas.
A ideia de ESG é comumente empregada por investidores, gestores de ativos e outras partes interessadas como uma ferramenta para analisar o desempenho sustentável e as abordagens éticas das organizações. Empresas que incorporam os princípios ESG em suas atividades geralmente recebem reconhecimento por sua sustentabilidade e responsabilidade social.
Nesse contexto, destaca-se o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3), um indicador do desempenho médio das cotações de empresas comprometidas com a sustentabilidade. Essa iniciativa auxilia investidores, incentiva práticas ESG e destaca a sustentabilidade como elemento crucial para o mercado, similar ao papel internacional do The Sustainability Yearbook da S&P Global nos índices de sustentabilidade corporativa.
Em 2022, o ISE da B3, indicador sustentável, alcançou um recorde com 183 empresas, um aumento de 38% em relação a 2021. Isso reflete o crescente interesse das empresas em práticas sustentáveis.
Investir com critérios ESG tornou-se uma tendência significativa nos mercados financeiros. Nessa prática, os investidores buscam empresas comprometidas com responsabilidade ambiental, social e governança. Essa abordagem não visa apenas ganhos financeiros, mas também impacto positivo em questões ambientais e sociais.
Nesse quesito, o relatório de sustentabilidade desempenha um papel crucial como ferramenta de comunicação transparente, permitindo que empresas compartilhem suas práticas ESG com stakeholders diversos. Ao apresentar métricas específicas, o relatório avalia o desempenho da empresa em critérios ESG, abrangendo medidas ambientais, sociais e de governança.
Destaca também o alinhamento das práticas ESG com metas de longo prazo, influenciando nos resultados financeiros e planos futuros de aprimoramento. Além de informar, o relatório é uma ferramenta eficaz de engajamento, construindo relacionamentos sólidos e atraindo investidores.
O relatório de sustentabilidade é crucial para integrar práticas ESG, promovendo transparência e destacando sua contribuição para o valor a longo prazo e reputação da empresa. A Resolução CVM 193 da Comissão de Valores Mobiliários torna obrigatória a apresentação do relatório de riscos ESG para empresas de capital aberto a partir de 2026, refletindo a expansão das políticas governamentais para promover práticas empresariais sustentáveis e socialmente responsáveis.[3]
A Resolução destaca a importância da efetividade empresarial e da harmonização com padrões internacionais na divulgação de informações de sustentabilidade, seguindo as diretrizes IFRS S1 e S2 do ISSB. O objetivo é fornecer informações abrangentes sobre riscos, oportunidades e questões climáticas, promovendo transparência global e comparabilidade nas práticas de responsabilidade corporativa. O ISSB, da IFRS Foundation, busca impulsionar a adoção de padrões internacionais para garantir transparência e consistência global nas comunicações organizacionais.
As organizações estão intensificando sua dedicação à supervisão dos indicadores ESG, e é fundamental que continuem a expandir suas iniciativas de divulgação ao mercado. Isso se torna essencial para atender à crescente demanda dos stakeholders por maior transparência, sustentabilidade e responsabilidade corporativa.
Segundo a pesquisa da KPMG sobre Relatórios de Sustentabilidade (2020), o setor de mineração lidera o engajamento ESG, com 85% de comprometimento, inclusive na promoção da presença de mulheres e pessoas com deficiência nas empresas. Outros setores com destaque são energia (19% de empresas publicando documentos), transporte e logística (17%), e saneamento (10%).
Iniciativas incentivam práticas transparentes e sustentáveis nas empresas para benefício social. Desde 2018, os arquivamentos de documentos sobre ESG na CVM por empresas listadas mostram aumento expressivo: 42 em 2018 (38 de Categoria A e 4 de Categoria B), 55 em 2019 (51 de Categoria A e 4 de Categoria B), 70 em 2020 (64 de Categoria A e 6 de Categoria B), e 107 em 2021 (101 de Categoria A e 6 de Categoria B). Em 2022, foram 215 documentos arquivados (208 de Categoria A e 7 de Categoria B). Até dezembro de 2023, 196 relatórios foram disponibilizados (192 de Categoria A e 4 de Categoria B).
Em 2023, as empresas passaram por uma notável mudança, marcada por um comprometimento significativo com a transparência e avanço na agenda ESG. A uniformização de relatórios e indicadores ESG foi evidente, com uma crescente demanda por aprimoramento em Governança, Riscos e Controles. A busca por profissionais especializados em ESG nas Relações com Investidores reflete uma transformação substancial na abordagem empresarial em relação às práticas ambientais, sociais e de governança. A inclusão desses especialistas nas equipes desempenha um papel crucial na geração de valor de maneira mais equitativa e abrangente.
Em um artigo da MZ Group de novembro de 2023, analisando o Formulário de Referência, destaca-se que algumas características estão sendo gradualmente aprimoradas, como a presença de apenas 10% de mulheres em cargos de DRI, enquanto diretores e presidentes compõem 96% dos homens. Cerca de 71% das empresas afirmaram adotar práticas de ESG em suas atividades, entre outros dados.
Embora não seja uma exigência da CVM, cada vez mais empresas optam por adotar o Relatório de Sustentabilidade e o Relato Integrado, tornando-se indicadores significativos das práticas ESG. A partir de 2027, a publicação do relatório deverá ocorrer dentro de três meses após o encerramento do exercício social ou concomitantemente à divulgação das demonstrações financeiras, seguindo a condição que ocorrer primeiro.
Em suma, é possível verificar que os temas estão crescendo cada vez mais, com metas a longo prazo e que poderiam influenciar de modo benéfico, caso as práticas planejadas pelas Companhias sejam efetivas, toda a cadeia.
–
Com o decorrer dos anos, o mundo corporativo deixou de ser algo limitado restrito apenas nos lucros líquidos de uma Companhia, passando, assim, a analisar o meio a sua volta, pois um espaço de trabalho saudável e a preservação do meio ambiente podem influenciar o rumo das empresas.
Ao oferecer um panorama claro das ações e impactos das empresas, o relatório não apenas atende a requisitos regulatórios, mas também cria um ambiente propício para a inovação e o desenvolvimento de estratégias que incorporam efetivamente princípios da sustentabilidade no mercado.
As práticas das Companhias visam melhorias a longo prazo, tanto internamente, ao entenderem questões setoriais e aprimorarem seus domínios, quanto externamente, através de influências da mídia e da sociedade civil. Essas práticas incentivam um planejamento estratégico para questões socioambientais, promovendo conscientização nas produções e nas relações com os colaboradores.
Nesse contexto, o relatório de sustentabilidade emerge como ponto norteador, desempenhando não apenas um papel regulatório, mas também exercendo influência vital na promoção da transparência e responsabilidade ambiental e social no universo empresarial. Essa exigência alinha as práticas corporativas com as crescentes demandas da sociedade por empresas mais comprometidas socialmente, estimulando uma mudança de mentalidade no mundo dos negócios.
[i] International Financial Reporting Standards – IFRS S1 abrange os requisitos gerais para informações financeiras ligadas à sustentabilidade, enquanto S2 se concentra nas informações financeiras relacionadas ao clima.
Equipe Green
Drielly Coletti, Gabriella Gallo, Isabelle Barbosa, Karen Vasquez, Micaelly Campos, Rafaela Gregório e Victor Conceição
–
Sobre a MZ
A MZ (www.mzgroup.com.br) é o maior player global independente e o líder em soluções de relações com investidores (RI).
A Companhia, fundada em 1999, ultrapassou a marca de 2.000 websites publicados, servindo atualmente mais de 800 empresas e gestoras de investimento em 12 bolsas de valores.
Com o propósito de empoderar estratégias de RI, a MZ entrega tecnologias inovadoras e atendimento excepcional aos clientes, assegurando parcerias de longo prazo.