O universo de Relações com Investidores está sempre em constante evolução e os avanços tecnológicos, impulsionados cada vez mais pela rápida ascensão da inteligência artificial e da análise de dados digitais, direcionam os profissionais de RI a adotarem novas ferramentas em suas rotinas para atender à crescente demanda por informações, sejam regulatórias ou de mercado, visando sempre uma comunicação eficaz, transparente e que consiga atingir a todos os públicos interessados.
Webcasts interativos, roadshows virtuais de ESG e a coleta e análise de dados são apenas alguns exemplos que nos fazem repensar a comunicação corporativa das companhias e, consequentemente, do RI, que precisa sempre se atualizar e explorar as melhores práticas para transitar nesse cenário cada vez mais dinâmico.
Website de Relações com Investidores
Primeiro ponto, é preciso repensar seu site de RI. Ele é uma das portas de entrada da empresa, o lugar em que os investidores devem se sentir bem-vindos e que possam compreender plenamente a história da empresa, seu desempenho e, o mais importante de tudo, ser a principal a fonte de respostas direta às perguntas dos investidores. Ou seja, o site de Relações com Investidores é e deve ser sempre a principal fonte de informação do mercado, será por meio dele que os analistas e investidores poderão conhecer a história da companhia, entender seu modelo de negócios e ter acesso de maneira fácil às informações que desejarem.
Segundo pesquisa da revista especializada IR Magazine, na visão dos próprios investidores, 65% dos sites de RI são considerados muito úteis quando estão procurando investir em uma nova companhia. Esse percentual, quando estão olhando companhias que já investem é de 62%. Ou seja, os sites de RI, que são e cada vez mais devem ser a principal fonte de conhecimento sobre a empresa e o espaço em que os investidores possam adquirir conhecimento para a decisão de investimento, ainda não cumprem 100% esse papel.
Além de disponibilizar informações, é importante que a experiência do usuário seja boa nos sites de RI das companhias. E, para isso, é necessário um design moderno e alta qualidade nas questões de UX e UI. Hoje, apenas disponibilizar documentos para download não é mais suficiente para satisfazer seus investidores, sejam eles pessoas físicas ou investidores institucionais, já que, segundo a pesquisa realizada pela Brunswick, esses preferem a interatividade digital e conteúdo na página, não apenas em arquivos em PDFs.
Segundo a pesquisa, as principais páginas dos sites de RI em termos de importância são as abaixo:
- Cotações e Gráficos
- Central de Resultados
- ESG
- Apresentações Interativas
Algumas dicas importantes para causar uma boa impressão em seu site de RI, de acordo com a pesquisa da Brunswick:
- Primeira impressão: segundo especialistas, a companhia tem de 6 a 7 segundos para causar um impacto positivo quando um interessado entra no site. Essa boa impressão pode ser obtida por meio de vídeos do CEO descrevendo a missão da Companhia, imagens que apresentem uma visão geral da empresa ou até infográficos, que podem apresentar informações de forma clara e concisa.
- Conteúdo: evite textos longos; disponibilize uma FAQ com as principais dúvidas que recebem dos investidores; contar história e jornada da empresa e crie pop-ups que facilitem o usuário a cadastrar-se no mailing.
- Marca: reforce os ideais da marca utilizando imagens que representam seus valores.
- Feedback: forneça um formulário de feedback para que os visitantes possam contribuir com sugestões e novas ideias.
- Adequação e constância no Storytelling: eis uma das conexões mais importantes, é preciso contar a história da companhia de uma maneira acessível e assertiva, não apenas divulgar seus resultados, mas contar o que fez os números serem aqueles e o que os afetará no futuro.
Release de Resultados
Principal documento de comunicação com o mercado para a maioria das empresas, o Release de Resultados é uma oportunidade de se comunicar com investidores e com o mercado de maneira clara e objetiva, além de fornecer uma visão estratégica das conquistas da empresa e como elas se alinham com suas metas e aspirações. No entanto, é preciso ter cuidado na hora da revisão, já que muitas empresas, visando economizar tempo, apenas atualizam trechos de versões anteriores. É necessário certificar-se que os textos façam sentido com os novos números e outras informações sensíveis estejam revisadas e corretas e sigam o storytelling da companhia.
Abaixo, algumas dicas na hora de elaborar os Releases de Resultados:
- Simplicidade: mantenha o documento simples e direto, focando no que é mais importante para o público-alvo da companhia.
- Consistência: mantenha as práticas estabelecidas para facilitar a comparação com resultados anteriores. Caso haja um motivo convincente para a descontinuidade da publicação da informação, é interessante sinalizar as justificativas.
- SEO: pense como os interessados pesquisarão a divulgação de resultados, dê preferência a termos que possam ser encontrados por meio da otimização de mecanismos de pesquisa (SEO).
- Análises: monitore as visualizações e compartilhamentos em redes sociais para entender o interesse dos investidores e aprimorar futuros comunicados. Também se recomenda que estejam abertos a receber feedbacks para melhorias e sugestões.
Conferências de Resultados
Após os esforços para redigir e disponibilizar o melhor material possível no seu Release de Resultados, as companhias apresentam seus resultados por meio de uma conferência para investidores e o mercado em geral, onde interagem respondendo a perguntas e se colocando à disposição para responder às perguntas dos interessados.
O planejamento de uma conferência de resultados deve considerar, em primeiro momento, algo muito importante e que muitas vezes é deixado de lado: a data e hora. É muito importante que a companhia analise a agenda de outras conferências, investor day e reuniões públicas visando evitar o conflito de agendas e que todos interessados possam participar. Além disso, a divulgação do evento é muito importante, seja por meio de um mailing “save the date”, pop-up no site de RI, atualização do calendário do site e envios periódicos de lembrete para o evento.
Destacam-se algumas características de uma conferência/webcast de sucesso:
- Transcrições: oferecer transcrições (no idioma original e traduzida para o inglês se for o caso) completas para facilitar o acesso ao conteúdo.
- Perguntas e Respostas: apesar de parecerem desafiadoras, a sessão de perguntas e respostas são uma oportunidade para o RI demonstrar seus conhecimentos e habilidades de comunicação. É aconselhado garantir que não haja erros verbais e espaços para divagações. Além disso, um ensaio da conferência é sempre bem-vindo: quanto mais preparada alta administração for, melhor será a imagem passada para o mercado. Caso necessário, um media training pode facilitar a trazer mais confiança para a alta administração nesse tipo de evento.
- Coleta de dados: ter um controle de dados tanto da conferência quanto do webcast é essencial para entender o perfil e comportamento do público, onde é possível ter insights e ajustar pontos específicos para os próximos eventos.
Além disso, sempre é bom lembrar sobre a acessibilidade, ponto crucial para as conferências de resultados, voltando esforços para a inclusão digital. Segundo dados do IBGE, de 2019, 8,4% da população brasileira possui alguma deficiência e, dessas, 3,4% representam pessoas com deficiência visual e 1,1% auditiva.
Deste modo, reitera-se a importância de que todos os grupos da sociedade possuam acesso e possam participar de conferências de resultados. Alguns exemplos de como aumentar a acessibilidade para este público é a utilização de textos legíveis por softwares de acessibilidade, disponibilizar legendas nos vídeos e, novamente, fornecer as transcrições dos eventos.
Engajamento com Investidores
O número de investidores individuais vem crescendo a cada ano que passa no Brasil. Segundo os últimos dados da B3, os investidores individuais de renda variável ultrapassam os 5 milhões, número que vem aumentado a cada ano que passa. Nos Estados Unidos, por exemplo, investidores individuais já movimentam mais de US$34 bilhões anualmente. Destaca-se também que os investidores estão cada vez mais novos. Segundo a Exame, em 2023, pessoas entre 19 a 24 anos correspondiam a 18% do total de investidores de renda variável. Já os investidores entre 25 e 39 anos representavam 49% do total.
Tendo isso em vista, é possível e necessário realizar estratégias para engajar esses novos investidores. Primeiro, dado que o público mais jovem utiliza mais dispositivos móveis, é recomendável garantir que o site de RI seja otimizado e responsivo para esses dispositivos. Além disso, garantir a presença ativa em mídias sociais, principalmente o Linkedin, mas também a presença em redes como TikTok, Instagram e Reddit dentre outros, auxilia a conexão com esses investidores mais jovens. Além disso, as redes sociais promovem o engajamento dos colaboradores das companhias que também investem e que, muitas vezes, são um público negligenciado, mas que possuem grande conhecimento sobre a empresa, podendo contribuir com questionamentos mais detalhados e incisivos, além de se tornarem promotores da companhia.
Uma das principais sugestões nesse sentido é disponibilizar conteúdos educacionais dentro dos sites de RI, conhecidos como Investor Education, e atualizar esse conteúdo com frequência, mantendo o público-alvo engajado e satisfeito.
Comunicação sobre ESG
ESG, ou ASG em português, vem sendo um tema bastante debatido nos últimos anos. Nos EUA, por exemplo, após um período a favor, observa-se uma corrente que surge contra o ESG atualmente. A fala em junho de 2023 do CEO da BlackRock, maior gestora do mundo com mais de US$9 trilhões em ativos, em que afirmava que estava abandonando o termo “ESG”, indicava essa nova reação contra os princípios ESG. Além disso, ainda nos EUA, na última temporada de Assembleias, cerca de 10% das propostas apresentadas foram contra ações ESG.
Observando essa tendência, é importante que o RI realize uma comunicação precisa e eficaz sobre questões ESG, adotando uma perspectiva analítica e empírica da materialidade do assunto, além da eficiência na gestão de riscos e oportunidades identificadas de uma maneira palpável e mensurável por parte do mercado.
Aqui no Brasil observamos que os órgãos reguladores, especialmente a CVM, vêm aprovando medidas para fomentar uma maior participação das companhias em tópicos ASG (ESG). Como exemplo, podemos citar o Anexo ESG, proposto pela B3 e aprovado pela CVM, que tem medidas que buscam estimular que as companhias reportem boas práticas, abrangem eleição de mulheres e grupos sub-representados para a alta liderança e critérios ESG para o bônus dos executivos.
Deste modo, recomenda-se que as companhias fiquem atentas no que a legislação vem recomendando para as companhias e verifiquem caso as recomendações venham a ser obrigatórias no futuro. Além disso, discorrer sobre ASG (ESG) nos relatórios de resultados é uma maneira de apresentar para o mercado materialmente e empiricamente os resultados, comprovando a relevância e representatividade dos resultados.
Recomendamos aos profissionais de RIs que considerem realizar roadshows de ESG, dedicando um evento para a temática e apresentando as ações, visões e resultados da companhia sobre o tema. Como exemplo, em 2023, a empresa do setor Petróleo, Gás & Derivados, ULTRA (UGPA3), realizou um ESG Day, evento dedicado à temática e que visava apresentar o Plano ESG 2023 da companhia e seus resultados práticos.
Inteligência Artificial como aliada
A Inteligência Artificial promete ser uma grande aliada para os profissionais de RIs, oferecendo ferramentas poderosas para identificar e se conectar com investidores de forma mais eficaz. A Inteligência Artificial facilita a identificação de investidores em potencial de acordo com critérios específicos como perfil de investimento, histórico de transações e interesses. Além disso, a Inteligência Artificial pode ajudar na personalização de mensagens e conteúdo para diferentes grupos de investidores, aumentando o engajamento e a efetividade da comunicação.
No futuro, é possível prever a Inteligência Artificial fornecendo novas oportunidades para o profissional de RI, deste modo, ao abraçá-las, pode auxiliar o profissional em tarefas comuns e permitindo que sobre mais tempo para que se concentrem seus esforços em um trabalho mais estratégico.
Um ponto de atenção é saber diferenciar o que é público e privado. Seria considerado “extremamente imprudente” colocar informações sensíveis em um programa público de Inteligência Artificial, como o ChatGPT, por exemplo, pois ainda não se sabe como os dados nessas plataformas estão sendo tratados. Deste modo, é importante que o profissional de RI se atente (se não houver, crie) e siga políticas relacionadas do uso de Inteligência Artificial, que devem ser examinadas com muita cautela e que seja prioritário em relação à segurança da informação.
Por fim, por mais que as Inteligências Artificiais ajudem no dia a dia, essas não podem substituir a revisão e o “olho” humano. Recentemente, observou-se inúmeros erros gerados por essas que foram temas de artigos de notícia. Deste modo, recomenda-se que seja, independentemente para quem for compartilhado esse conteúdo, – funcionários, analistas ou investidores – sempre seja revisado e verificado pelo profissional de RI.
Conclusão
A área de Relações com Investidores e os desafios enfrentados pela área estão em constante evolução, impulsionados pela rápida ascensão da inteligência artificial e da análise de dados digitais. Para navegar nesse cenário dinâmico e garantir uma comunicação eficaz, transparente e informativa com acionistas e com o mercado em geral, as empresas precisam repensar suas estratégias de RI e adotar o uso de ferramentas inovadoras.
Ao abraçar essas práticas e se manter atualizado com as tendências do RI, as empresas podem fortalecer suas práticas de relações com os investidores, impulsionar o valor da empresa e alcançar um sucesso contínuo através de uma comunicação corporativa eficiente e eficaz.
Essas são algumas considerações sobre esses assuntos que consideramos muito importantes na vida das empresas de capital aberto. Esperamos ter ajudado e, qualquer dúvida, estamos sempre à disposição!
Equipe Estudos MZ
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Sobre a MZ
A MZ (www.mzgroup.com.br) é o maior player global independente e o líder em soluções de relações com investidores (RI).
A Companhia, fundada em 1999, ultrapassou a marca de 2.000 websites publicados, servindo atualmente mais de 800 empresas e gestoras de investimento em 12 bolsas de valores.
Com o propósito de empoderar estratégias de RI, a MZ entrega tecnologias inovadoras e atendimento excepcional aos clientes, assegurando parcerias de longo prazo.