Como a comunicação, as novas regulações de ESG e a Inteligência artificial podem influenciar o valor das empresas
Moderador: Rodrigo Lopes da Luz, Conselheiro do IBRI
Palestrante: Reinaldo Oliari, Sócio de Audit & Asserance Deloitte
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O que define o profissional de RI como bem-sucedido?
Talvez esse tenha sido o principal questionamento realizado pelo palestrante Reinaldo Oliari, durante a abertura do primeiro painel do 25º encontro internacional de relações com investidores e mercado de capitais, realizado pela ABRASCA (Associação Brasileira das Companhias Abertas) e o IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores) para a apresentação da pesquisa Deloitte/IBRI – O protagonismo estratégico do RI.
Apesar de ousada, a resposta é bem simples: conhecer os indicadores financeiros e não financeiros da companhia.
Pelo menos foi esse o retorno da pesquisa, que mostrou que 72% das companhias pesquisadas definiram essas habilidades (de compreensão dos indicadores financeiros, de sustentabilidade e ESG da empresa) para uma liderança de RI bem-sucedida.
Indicadores Financeiros
ROA, ROE, ROI, EBIT, EBITDA, são um dos muitos indicadores existentes e já conhecidos pelos participantes do mercado financeiro e de capitais e eles têm uma grande importância para as companhias.
O ROI (Retorno sobre o Investimento), por exemplo, mede a eficiência ou lucratividade dos investimentos da empresa, esse importante indicador mede a quantidade de retorno sobre um investimento em relação ao custo do mesmo.
Já o EBITDA (Lucros Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização) é um indicador financeiro bastante utilizado para avaliar o desempenho operacional de uma empresa. Ao eliminar juros, impostos, depreciação e amortização, o EBITDA permite comparações mais fáceis entre empresas de diferentes setores ou países, que podem ter diferentes estruturas fiscais e de financiamento.
Como dito, esses indicadores são de extrema importância para os profissionais de RI e do mercado de capitais como um todo, mas ao sermos questionados sobre os indicadores não financeiros, como Equidade, ESG, Comunicação, Inteligência Artificial será que todos nós, RI’s estamos preparados para responder essa pergunta?
Indicadores Não Financeiros & Regulações ESG
Conhecer quantas mulheres da companhia estão em posições de liderança, em algum nível de tomada de decisão, ter um olhar profundo para a comunicação da empresa, ter metas de descarbonização e métricas alinhadas com as melhores práticas de ESG são alguns dos muitos indicadores não financeiros que as companhias deveriam adotar.
E foi com alguns desses exemplos que foi apresentado em um dos temas decorridos na pesquisa deste ano.
A pesquisa focou em três temas principais: regulações de ESG, comunicação dos departamentos de RI das companhias e o uso da tecnologia, bem como a inteligência artificial pode influenciar o valor das empresas.
O palestrante Reinaldo Oliari comentou que a pesquisa foi realizada com 51 companhias, onde 41% são companhias não listadas, 37% são listadas na B3, 18% são listadas no exterior e 4% possuem listagem na B3 bem como no exterior.
A escolha diversificada das companhias e seus tipos de participação no mercado de capitais foi essencial para uma amostra mais ampla da pesquisa.
Apesar do grande tamanho e complexidade da pesquisa, Reinaldo fez questão de mostrar que a Delloite e o IBRI tiveram uma preocupação em entender a estrutura da Área de RI das companhias estudadas, e concluíram que apesar de 76% dessas empresas possuírem uma área de de RI estruturada, somente 51% das companhias possuem essa área estruturada a mais de 5 anos, sendo possível concluir que antes, era comum a falta de preocupação e olhar profundo com a área de RI, muitas vezes sendo exercida apenas como cargo secundário, por exemplo: CFO & RI.
Com o surgimento das exigências regulatórias, principalmente exigências como a Resolução CVM 159, que passou a exigir informações das companhias listadas e a B3 que passou a exigir que as companhias listas cumpram regras de diversidade até 2026, surgiu então a necessidade de uma atenção maior com a área de RI.
Como destacado em sua apresentação:
“Diante dos desafios estabelecidos, as organizações têm direcionado seus esforços para criar uma estrutura de governança corporativa robusta e que assegure a transparência, a confiabilidade e a ética na comunicação com os stakeholders.
Além disso, a adoção de novas tecnologias e o envolvimento em questões ESG se mantêm como pautas prioritárias à área de RI das empresas.
Ao priorizar estratégias e superar seus principais desafios, a área de RI ganha ainda mais protagonismo na busca pelo sucesso da organização, contribuindo para a gestão de sua reputação, a captação de recursos e a construção de relacionamentos duradouros com os investidores.”
O estudo ainda destaca uma importante informação observada na pesquisa, que pode servir de exemplo para outras companhias: 57% das empresas analisadas possuem um comitê administrativo responsável pelas iniciativas ESG.
Uso da Tecnologia pelos RI’s e como a Inteligência artificial pode influenciar o valor das empresas
Ao abordar o uso de tecnologias pelo o RI, Reinaldo trouxe que 39% das empresas consideram a incorporação de processos tecnológicos às atividades o principal desafio na área de RI.
O palestrante destacou também o crescente interesse das companhias na adoção de IA (inteligência artificial) ou GenAI (inteligência artificial generativa) não como substitutos dos profissionais de RI, mas como auxiliares.
O estudo mostrou que mais da metade das companhias pesquisadas consideram a adoção de IA como prioridade na área de RI, porém, somente 17% dessas já implementaram algum tipo de ferramenta dessa tecnologia. Dessas áreas, 50% utilizam essa ferramenta para leitura e sintetização de dados, enquanto 38% na produção de relatórios financeiros como fatos relevantes, press release e outros, 38% das companhias entrevistadas utilizam a ferramenta para análise de dados financeiros, 25% para personalização de conteúdo para investidores, 13% adotaram chatbots para atendimento de investidores e 13% para identificação de anomalias ou tendências em pesquisa e dados de mercado.
A pesquisa também destacou que 35% das companhias pretendem aderir ainda no próximo ano a essa ferramenta, podendo desta forma, no futuro, influenciar ou gerar valor nestas empresas.
Comunicação dos departamentos de RI
Com a crescente presença de investidores Pessoas Físicas no valuation das empresas, surge a necessidade de uma comunicação inovadora, disruptiva e diferenciada. Esse desafio foi apresentado pelo palestrante Reinaldo Oliari, ao abordar os desafios do time de RI com a comunicação.
Reinaldo ainda destaca que com o emergente crescimento desse grupo na participação das empresas, as companhias têm tido a necessidade de inovar nas formas de comunicação, buscando principalmente realizar Lives/Teleconferências, investir nos websites de RI, realizar conferências presenciais para aproximação com os investidores entre outros meios de comunicação.
A pesquisa também concluiu que 84% das companhias concordam que as mídias sociais se tornaram uma fonte relevante de informação sobre economia e investimentos para o investidor.
Ainda sobre a comunicação, o palestrante trouxe um dado curioso:
37% das companhias que participaram do estudo, avaliam a popularização dos finfluencers (influencers da área de finanças) como positiva.
Ao buscar entender o motivo dessas avaliações positivas, a pesquisa concluiu que 81% dos entrevistados acreditam que essa participação dos finfluencers irá ajudar na democratização da educação financeira, 75% acreditam que isso poderá criar um engajamento direto com os investidores e 63% acreditam que essa é uma boa forma de compartilhar experiências.
Conclusão
Quando falamos de estratégia corporativa, destaca-se não as companhias que fazem o mesmo, sempre, de forma correta, mas as que estão dispostas a errarem na busca de entregar constantemente algo melhor.
Buscar o auxílio de tecnologias, comunicar-se melhor, respeitar e buscar interagir de forma diversificada com o mercado, é um dos muitos desafios positivos que as companhias devem buscar enfrentar, na busca de entregar cada vez mais, sejam valores tangíveis, como resultados financeiros ou intangíveis, como uma sociedade melhor.
Victor Conceição
Relações com Investidores